O número de demissões por justa causa bateu recorde no início de 2024. Em janeiro, o total de desligamentos do tipo chegou a 39.511, maior patamar da série histórica, que tem início em 2004. A leitura de fevereiro foi a maior para o segundo mês do ano.
Levantamento feito pela LCA Consultores mostra que o total de demissões por justa causa de janeiro é 11,5% maior do que os 34.131 de dezembro e representa 25,6% a mais do que os 31.454 desligamentos desse tipo em janeiro de 2023, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
Em fevereiro, o total de desligamentos do tipo chegou a 35.667, o que representa uma alta de 25,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando houve 28.310 desligamentos.
Para Bruno Imaizumi, economista da LCA responsável pelo levantamento, não há como ter certeza sobre o impacto total da volta do trabalho presencial pós-pandemia, ou das mudanças comportamentais nos empregados que só agora podem ser mensuradas e avaliadas pelos empregadores.
O próprio processo de “quiet quitting”, no qual o funcionário vai deixando de cumprir tarefas sem fazer questão de avisar o empregador, pode pesar nesse aumento das demissões por justa causa.
Imaizumi acrescenta ainda a questão da metodologia do Caged, que desde 2020 tem sido mais abrangente, capturando mais informações sobre desligamentos e admissões.
Soma-se a isso a sazonalidade. O economista afirma que janeiro, por exemplo, costuma ser um mês em que as empresas revisam metas e costumam renovar ou descontinuar contratos de emprego.
O recorde da série no acumulado em um ano ocorreu em dezembro de 2014, com 411.165 demissões por justa causa. Mas a curva vem aumentando, e não parece que irá desacelerar tão cedo, uma vez que o mercado não está apenas mais aquecido, gerando vagas, mas também mais movimentado, com mais admissões e desligamentos.
Mas, apesar da alta em termos absolutos, as demissões por justa causa representam cerca de 2% do total de desligamentos, proporção chegou ao ápice da série há dez anos – em 2014 chegou a 2,2% do total, enquanto em janeiro de 2024 representou 2,1%, e em fevereiro, 1,85%.
Enquanto o mercado de trabalho estiver aquecido, a tendência é continuarmos a ver os números de demissões por justa causa em patamar alto. No entanto, o mercado já começou a desaquecer. O que deveremos ver, então, é a manutenção desse cenário, sem aumentos significativos das demissões por justa causa.
*Matéria original do Valor.