Com o mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e os orçamentos mais apertados, uma prática silenciosa tem ganhado espaço dentro das empresas: o quiet hiring. A estratégia consiste em movimentar profissionais internamente para ocupar posições estratégicas, sem abrir novos processos seletivos.
Segundo a ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos – São Paulo), a abordagem vem sendo cada vez mais adotada como alternativa eficaz para reter talentos, reduzir custos e aumentar o engajamento.
“O quiet hiring permite que as empresas aproveitem melhor seus próprios recursos, ao mesmo tempo em que oferecem oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional para seus times”, afirma Eliane Aere, presidente da ABRH-SP.
Diferentemente de uma reestruturação tradicional, o quiet hiring é uma movimentação planejada, que foca na valorização dos talentos já existentes. Em vez de buscar novos profissionais no mercado, as empresas identificam funcionários que podem assumir novas responsabilidades ou migrar para áreas mais estratégicas.
A estratégia consiste em suprir lacunas de habilidades, funções críticas ou demandas de novos projetos por meio da mobilidade interna — seja por promoções, movimentações laterais ou designações temporárias.
Entre os principais benefícios de a empresa apostar no “quiet hiring”, a presidente da ABRH-SP destaca:
- Maior retenção de talentos: funcionários se sentem reconhecidos e motivados ao perceberem oportunidades reais de evolução na carreira;
- Otimização de custos: a empresa evita os gastos com recrutamento, seleção e treinamento de novos funcionários;
- Mais agilidade e competitividade: a realocação rápida de profissionais permite uma resposta mais eficaz às demandas do negócio.
Além das promoções, a prática pode incluir: mudanças temporárias de função para cobrir férias, licenças ou liderar projetos específicos; movimentações laterais focadas no desenvolvimento e ampliação de repertório; participação em times ou comitês interdisciplinares, onde colaboradores atuam além de suas funções habituais; promoções definitivas, quando há alinhamento de perfil e necessidade. "O foco está menos no cargo e mais nas competências e no desenvolvimento contínuo do profissional", resume Thomas Costa, porta-voz do Pandapé, software de RH mais utilizado na América Latina.
O avanço do quiet hiring está diretamente relacionado às recentes mudanças recentes no comportamento do mercado de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, só em janeiro de 2025, 37,9% dos desligamentos no país foram por pedido voluntário, o maior índice para o mês desde o início da série histórica.
O quiet hiring ganhou mais visibilidade em contextos de incerteza econômica, quando as empresas precisaram encontrar soluções criativas para continuar evoluindo com menos recursos, afirma Aere, que acredita que essa prática já é uma tendência duradoura.
“Empresas que implementam um modelo estruturado de movimentação interna e desenvolvimento contínuo criam um ambiente de trabalho mais dinâmico, motivador e consequentemente sustentável”, afirma a presidente da ABRH-SP.
Apesar dos benefícios, Thomas Costa alerta que, se mal-conduzido, o quiet hiring pode gerar efeitos colaterais como sobrecarga, desmotivação e até riscos trabalhistas.
"É fundamental que o RH e os gestores conduzam esse processo com clareza, alinhando expectativas, oferecendo suporte e garantindo que não haja acúmulo de funções sem a devida compensação, seja financeira, em benefícios ou em desenvolvimento", explica.
Também é essencial respeitar a legislação trabalhista. Mudanças permanentes no escopo, carga horária ou nível de responsabilidade devem ser formalizadas para evitar riscos jurídicos.