Conforme os jovens millenials e da geração Z ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho, a influência das redes sociais transborda das telas dos celulares para a vida profissional. Eis que surge no Tik Tok e no Twitter o termo “quiet quitting”, que no Brasil foi traduzido como demissão silenciosa, como resposta ao burnout tão presente na cultura de “workaholics” (viciados em trabalho, em tradução livre).
A demissão silenciosa consiste em fazer o mínimo exigido da função no trabalho, de forma que a vida profissional não sobrecarregue a vida pessoal. A tendência se apresenta como uma alternativa para quem está infeliz no trabalho, mas não pode simplesmente se demitir – e a intenção do quiet quitting não é evitar o trabalho, mas justamente encontrar o equilíbrio para manter uma vida mais saudável.
A realidade que muitos desses jovens enfrenta é de uma cultura empregatícia que não garante a segurança financeira que as gerações anteriores tiveram, e a progressão relativamente simples da vida que é projetada pela sociedade se torna difícil de alcançar. Há uma frustração generalizada pela falta de oportunidades, pelo esforço extra que muitas vezes não é remunerado ou reconhecido, e com a pressão da independência econômica em meio à várias recessões e crises.
Especialmente após a pandemia, essa rejeição à ideia de “viver para o trabalho” evoca justamente a busca desses jovens trabalhadores por flexibilidade, maior propósito em seus trabalhos, melhor equilíbrio entre suas vidas pessoais e profissionais em nome da saúde mental. E por mais que pareça estranho, existem benefícios inclusive para o empregador.
Diversos são os males do burnout, que foi reconhecido pela OMS como uma questão de saúde ocupacional. Mas o quiet quitting vai além de apenas prevenir o burnout: ao alcançar tal equilíbrio e melhorar a saúde mental do empregado, a prática também melhora sua autoestima e diminui as desmotivações, uma vez que o senso de valor pessoal não mais é intrinsicamente ligado à carreira.
Pesquisas provam que funcionários mais felizes também são mais produtivos, melhorando inclusive o engajamento e as relações de trabalho. Uma equipe eficiente que não compete internamente é capaz de criar vínculos de lealdade entre si e para com a empresa, o que ajuda o desempenho profissional geral. Nesse sentido, a demissão silenciosa é uma resposta interessante ao movimento da “grande demissão” que vem acontecendo desde o retorno ao trabalho presencial pós pandemia.
Porém, é importante entender que manter um emprego onde a pessoa não é feliz em prol da flexibilidade pode significar abrir mão da satisfação que um bom emprego pode proporcionar. Sem contar que existe a possibilidade real dessa escolha se tornar uma demissão por inteiro, caso o desempenho seja insuficiente para a empresa. – e talvez esse risco não seja ideal para qualquer um. Segundo o Valor, Jha’nee Carter, tiktoker americana que se autodenomina a Rainha do RH, aponta que o quiet quitting aumentou os riscos para grupos marginalizados: “As minorias podem se dar ao luxo de fazer isso na América corporativa? Na minha opinião, não”. As desigualdades estruturais presentes em diversos setores nos Estados Unidos infelizmente tornam a prática insegura para minorias.
A tendência de demissão silenciosa cresce também no Brasil, e é prudente que aqueles que pensam em aderir façam um exame dos riscos da demissão real e suas desvantagens. A prática pode ser interessante para aliviar o estresse ocupacional, e o bom diálogo entre gestores e funcionários é interessante para que os objetivos estejam alinhados e o bem-estar garantido.